Moro numa casa que tem muitas árvores, sempre há pássaros por perto Rolinha, Assanhaços, Curuira e o sabias, vivem debaixo de um pé de IPE coberto por uma ramagem de Guaco, mais parecendo uma caverna de folhas.
Um dia desses comecei a perceber que duas Sabias viam se alimentar de pequenas migalhas de comida que deixava num canto exatamente para os Pardais que vinham pela manhã. Bem Sabias não comem pão, comem frutas e pequenos insetos, mas essas duas em particular estavam sem as penas do rabo que impossibilitavam de voar ficavam quicando no muro sobre os galhos de árvores. Resolvi dar a elas alimentos pois sabia que do jeito que estavam não iriam sobreviver muito tempo.
Elas se acostumaram e pela manhã ficavam esperando a banana , a maçã ou um pedaço de mamão, quando se demorava era só olhar para cima que lá estava, elas, como a dizer: ei e o nosso alimento não vai nos dar hoje!!
Porém teve um fato marcante nesse processo, no quintal vizinho haviam duas árvores enormes que já estavam danificando as fundações das casa , era necessário cortá-las antes que elas mesmo desabassem sobre as casa. E a Sabias? - Sumiram por um dias ninguém mais as viram.
Um dia desse escutei um barulho estranho vindo da árvore de frente do portão, lá é o reduto das Rolinha, não vi nada, mas continuei a ouvir um piado, olhando mais em volta percebi uma Sabia, toda machucada, sem as penas do rabo, das asas, ferida na cabeça, quando tentei pegá-la correu , não voava, foi uma algazarra, todo mundo atrás dela , e olha que ela foi campeã, deu um baile em todo mundo , por fim cansada foi capturada pelo seu inimigo natural, "homem".
Foi de cortar o coração, a pobrezinha toda em frangalho, seu coraçãozinho parecia que ia ser expulso de seu peito.
O que fazer?
Eu não crio animais, não tinha sequer uma gaiola apropriada para ficar com ela, mas também não queria dar a nenhum vizinho , pois sei muito bem que depois de ficar na gaiola iria perder sua liberdade para sempre. Improvisamos uma caixa e lá ela foi colocada, com mamão e banana e água.
Mais tarde um vizinho nos emprestou um gaiola espaçosa até para que ela ficasse, e de pronto logo ganhou um nome, meu filho a batizou de Pinta, e a Pinta está conosco a uma semana, olhando atentamente perceber-se como estava judiada, sem um dedinho de seu pé, Pinta é arredia, basta alguém se aproximar que ela logo entra em posição de ataque, como se disse:- Se chegar mais perto eu te bico, procuramos não deixá-la nervosa, e lá vai ela comendo frutas e mais uma vitamina para se fortalecer ganhar suas asas seu rabo e assim poder ganhar sua liberdade.
O engraçado é como num curto espaço de tempo ela já aprendeu a confiar em mim, toda vez que chego perto vou de mansinho falando bem baixinho com ela , Pinta percebe que quero trocar seu alimento limpar seu espaço e fica quietinha num canto, enquanto todo processo termina.
Logo espero que ela volte de onde veio para natureza , pois lá é seu lá seu lugar.
Assim que ficamos com a Pinta muitos vizinhos vieram oferecer ajuda, interessante, mas alguns queriam era que dissemos ela, para viver em cativeiro, logo em uma dessas conversas fiadas de vizinhos descobrimos que ela foi capturada e estava em cativeiro num lugar exíguo por isso os ferimentos, o dono quando não a quis mais soltou-a, mas em que condições.
Agora fico cá pensando se uma dessa pessoas poderiam viver numa gaiola, impor sua vontade a um bicho indefeso que tem a finalidade de nos encantar com seu canto, sua alegria quando estão cuidando das suas família.
Há coisas que o ser humano faz que não tem sentido, realmente não faz sentido.
Pinta em breve estará livre para voar para onde quiser, e viver a sua própria vida.